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30/04/2021
Ministro Paulo Guedes põe culpa nos brasileiros que teimam em envelhecer e trata idosos como seres descartáveis
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Após reclamar que a empregada doméstica viajou demais nos governos Lula e Dilma, dizer que o filho do porteiro não pode fazer universidade, agora é a vez do ministro Paulo Guedes reclamar que as pessoas demoram demais para morrer.

O ministro, em seu discurso do último dia 27, afirmou, sem saber que estava sendo gravado, que o atual SUS e o Estado estão quebrados. Com essa afirmação, enviou ao mesmo tempo uma mensagem subliminar aos empresários da saúde de que o futuro do setor no Brasil terá que passar às mãos dos particulares, favorecendo assim a indústria dos planos de saúde.

"Todo mundo quer viver 100 anos, 120, 130 ", disse. Segundo ele, "não há capacidade de investimento para que o Estado consiga acompanhar" a busca por atendimento médico crescente.

De acordo com o ministro, o Estado "quebrou" e, diante da escassez de recursos do sistema de Saúde, o setor público não terá capacidade de atender à demanda crescente por atendimento da população.

E os milhões de pobres que jamais poderão pagar um plano ou se tratar num hospital privado? Aí chega a parte mais desumana. Segundo o ministro, a culpa do descalabro do sistema publico de saúde não seria do Estado, e sim das pessoas que pretendem viver demais. É uma afirmação que atribui a culpa do descalabro sanitário ao desejo das pessoas de viverem o máximo que puderem.

A pandemia no Brasil trouxe uma mistura de crise sanitária com as crises social, econômica, alimentar, entre outras, contribuindo para aprofundar a desigualdade.

Alguns brasileiros têm teto; outros, viadutos. Alguns comem à vontade; outros apenas têm vontade de comer. Alguns lutam pela vacina para todos; outros desprezam as mortes. Alguns usam máscaras; outros deixaram-nas cair e escancaram preconceitos.

Não bastassem as 400 mil mortes, os jovens desempregados e desalentados, os 55% da população com insegurança alimentar e os 20 milhões de brasileiros famintos.

Não faz nenhum sentido imaginar que uma população que envelhece seja um ônus para o país. A economia e a previdência social brasileiras somente se sustentarão se apostarmos na vida, na educação, na saúde de qualidade, no cuidado ao longo da vida, em programas sociais de inclusão que reduzam a desigualdade e aumentem as oportunidades.

Não fossem as políticas sociais que resistem, como o Sistema Único de Saúde (SUS), nossas perdas de vidas teriam sido ainda mais avassaladoras. Chega de tratar brasileiros idosos como seres descartáveis.

Senhor ministro, a má gestão da coisa pública é que é o problema, não a longevidade.


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